Aqui você poderá encontrar muito de mim e espero com isso revelar o que ainda não sabe sobre você. Calma, aqui não será um espaço esotérico. Mas, acredito que no contato com o outro/a descobrimos quem verdadeiramente somos. Sinta-se a vontade em viajar comigo nesses escritos e saiba que o conhecimento é um processo, é uma construção, em que todos/as nós fazemos parte das diversas etapas de sua edificação. Participe desta aventura, venha pescar comigo nesse grande mar que é a vida, onde costuraremos histórias e reflexões acerca dos nossos sentimentos, pensamentos e das coisas da vida, as coisas do dia-a-dia que nos rodeiam.

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domingo, 16 de maio de 2010

História de pescador?

A leve brisa que sopra a fresta do quarto da casa de madeira anuncia que está na hora de levantar-se. Ele olha ao seu lado e vê a silhueta de sua esposa dormindo um sono invejável e delicadamente movimenta-se para não acordá-la, não queria importuná-la, não aquela madrugada com tem sido a rotina de seus 35 anos de casados, deseja que pelo menos naquela madrugada sua esposa tivesse uma completa noite de sono. Usou de toda sua calma, paciência e silêncio tão precioso e necessário em seu ofício para dosar seus movimentos ao sair da cama. Após minuciosos e cuidadosos movimentos consegue levantar-se sem interromper aquele belo e calmo sono que fazia sua esposa sorrir enquanto dormia. Caminha pela casa tendo apenas seus pensamentos e o vento que assobiava pelas frestas da casa, pensava em seu ofício diário, sua cama, sua esposa e seu sorriso adormecida, o tempo que perdia longe dela ao tentar garantir seu sustento de sua vida e se indagava, estaria garantindo sua vida ou perdendo-a? Pensou em todas as vezes em que mesmo querendo ficar ali e aproveitar o aconchego da cama, o calor daquele corpo que o fazia companhia e tornara sua vida tão feliz, teve que levantar e seguir para seu ofício.

Mas, aquele era a sua rotina, todo dia a mesma coisa, antes do sol despontar, e antes da lua beijar o mar, ele levanta-se e seguia para sua lida. Todo dia contemplava aquele rosto, aquele sorriso, aquele corpo que sentia-se obrigado a deixar ali, mesmo querendo ficar, para cumprir sua rotina. Que árdua rotina, deixar o aconchego daquele riso, aquele abraço que fica mais gostoso na madrugada e que nos chama a ficar sempre ali, aproveitando até o último momento.

Pela casa o vazio daquela vida que no quarto dormia, em cada canto a lembrança fria de cada momento vivido, as brigas e beijos, os choros e os risos, o gol e o último capítulo da novela, a mesa pronta servida com sua comida favorita, as danças ao som da rádio da cidade, o enterro do cachorro, o banho frio para superar o calor dos dias quentes, ouve ao longe o som das lembranças: amor o chuveiro queimou! Vem logo pra cama! O jantar estar pronto! Vamos ao cinema? Tem um circo na cidade! Chegou visita! Vou preparar o café!

Café? O café, perdido em seus pensamentos e em todas as lembranças que o resolveram visitar naquela madrugada, esqueceu do café, afinal e era ela que sempre com ele levanta-se e ia lhe preparar o café que o servia o dia inteiro em sua lida. O café que o fazia sentir-se sempre ali, ao lado dela, venerando o seu amor. Distante, sentia-se em casa e aquilo lhe confortava, era sua força para superar a distância que diariamente o acompanhava.

Caminhou em silêncio até a cozinha, pegou a panela, mediu a água e pós no fogo, em alguns minutos estaria pronto, não seria como o dela, mas era preciso ser assim, pelo menos naquela madrugada queria que sua esposa dormisse seu sono merecido. Enquanto esperava o aquecimento da água, preparou a mesa, tudo em seu devido lugar, faltava o pão, o pão! Estava na hora do padeiro passar, para garantir o sono de sua amada, abriu a porta da cozinha que dava para o quintal, deu a volta na casa e cuidadosamente abriu o portão, ao longe avistou uma bicicleta com um cesto em sua garupa. Era o padeiro, acenou e esperou, fez sinal para o padeiro mantivesse o silêncio. Dois pães, por favor! Com os pães em mãos agradeceu, despediu-se e entrou. Pôs os pães sobre a mesa.

A água no fogo fervia, pegou o saco de pano, colocou sobre o bule, colocou os grãos no moedor que renderem uma porção de aproximadamente duas colheres de sopa cheia de pó de café, açúcar suficiente para deixar o café levemente amargo e despejou a água. A água quente, ao encontrar aquele pó, penetrou-o e o fez exalar seu cheiro pelo ar, o cheiro inundou a casa, passando pelo corredor chegando até o quarto.

Sua esposa que no quarto gozava de um belo e calmo sono que a fazia sorrir enquanto dormia, sentiu aquele cheiro, abriu levemente os olhos e ameaçou levantar, precisava tanto daquele sono que não percebeu que estava só na cama, pensou que fosse um sonho, fechou os olhos e voltou a dormir, mas agora seu sonho tinha um cheiro de café da manhã, então sonhou, sonhou que naquele dia seu marido resolveu lhe fazer uma surpresa, primeiro, tinha decido não ir trabalhar, mas levantou como sempre no mesmo horário e sem que ela percebesse, saiu da cama, preparou o café, colocou a mesa, ornou com o vaso de tulipas que ela com tanto zelo cuidava, e voltou para cama para curtir sua companhia até que o sol anunciasse um novo dia. E, assim que os raios de sol invadiram todas as frestas da casa de madeira, das telhas expostas sem o forro, ela a abraçava como no seu primeiro encontro, e beijando-a dizia: amorzinho, está na hora de levantar, o café está pronto, só falta você e seu sorriso para completar a beleza deste dia.

Enquanto ela sonhava, ele verificava se tudo estava ali, seus materiais, a mesa pronta e a garrafa térmica de café, que naquele dia teria outro sabor, um sabor de cuidado, de recompensa, cuidado diária que sua esposa tinha ao levantar-se junto com ele para ajudá-lo a preparar os seus dias de ofício, mas, naquele, após 35 anos de cumplicidade, foi sua vez de cuidar e ajudar sua esposa a preparar seu dia, mesmo que foi com um pequeno gesto simples de preparar o seu café e deixá-la gozar de uma noite inteira de sono. Ouviu o canto dos maçariquinhos, foi até a janela da cozinha, da qual é possível ver o rio, e viu que o rio já havia baixado, anunciando a vazante da maré, era preciso ir, estava na hora. Mas, antes era preciso fazer uma coisa.

Foi até o quarto, olhou para sua esposa que ainda estava sonhando com a bela surpresa que tinha recebido, lamentando ter que deixá-la ali, aproximou-se, sentou-se na beirada da cama, mexeu nos cabelos de sua amada e que cobria o seu rosto e escondia aquele sorriso resultante do belo sonho em que ela se encontrava. A aproximação dele misturou-se ao sonho dela. Ela sentia o beijo que ele lhe dera como despedida ou até logo, em função de se encontrar em saída para sua rotina de trabalho. Após beijá-la, ele diz baixinho para não acordá-la: “Amorzinho, está na hora de eu ir, deixo seu café pronto, só vai faltar você e seu sorriso para completar a beleza deste dia quando eu estiver no mar”. Puxou a manta e a cobriu a fim deixá-la mais confortável e impedir que a brisa que invadia o quarto pelas frestas da parede de madeira a incomodasse. Levantou-se, mais uma vez com todo cuidado possível, foi até a porta, virou-se para trás e olhou mais uma vez sua esposa que ainda dormia e sorria. Ela como que sentido o vazio no qual o quarto ameaçava entrar, e em atenção as palavras que seu marido em sonho lhe dizia para levantar, abriu levemente os olhos e achou que o viu saindo. Ela pressiona as mãos fechadas sobre os olhos para melhor ver e se percebe só e o café.

O café? Percebeu que havia passado da hora, aquele sonho pareceu tão real, não entendo o que havia acontecido resolveu levantar-se e verificar o que estava acontecendo, foi então até a porta do quarto de onde era possível ver o acesso a cozinha e a saída para o quintal, avistou ele que pegava sua tarrafa, colocou-a no paneiro, onde estava a garrafa de café, junto com os outros materiais necessário para mais um longo dia de pesca, colocou o paneiro no cabo do remo, saiu pela porta da cozinha e caminhou em direção a sua canoa que o esperava quase em seco, pois o rio havia baixado depressa demais. Ela, enrolada na manta, corre até a porta da cozinha e grita suave ao seu amado com um riso triste em sua face: “amor! Não demora! Volta logo!”. Ele olha para trás e vê aquela linda mulher enrolada em uma manta que há alguns minutos tinha deixado na cama, pensou em tudo que passou por sua cabeça desde que levantou-se da cama.

Deixou seus materiais caírem no chão e foi ao encontro dela com aquele sorriso triste ao se despedir e que lhe pedia que ficasse, antes que ela se desse conta, ele a abraça, como se aquele fosse seu último abraço. Ela abre a boca para dizer-lhe algo e ele a impede com um demorado beijo, um beijo como eles nunca haviam experimentado, era uma mistura de amor, cumplicidade, desejo e realização. Ela tenta dizer alguma coisa e ele mais uma vez a impede de pronunciar qualquer coisa que seja além dos gemidos provenientes da satisfação daquele beijo que lhe tirava o fôlego. Após, uma luta que não queria travar contra aquele beijo ela consegue chamar atenção de seu amado e, sem parar o beijo, ela aponta em direção ao rio, que àquela altura, já estava seco e junto o casco, e diz ao seu marido: “Amor, você vai ter um trabalhão para empurrar o casco até alcançar a água”. Ele, sorrindo lhe diz, “Não terei não”. Ela: “Como não?”. Ele a abraça aconchegantemente por trás e lhe diz em seu ouvido como em uma jura de amor: “Ficarei aqui, juntinho de você, meu amor”.

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