Aqui você poderá encontrar muito de mim e espero com isso revelar o que ainda não sabe sobre você. Calma, aqui não será um espaço esotérico. Mas, acredito que no contato com o outro/a descobrimos quem verdadeiramente somos. Sinta-se a vontade em viajar comigo nesses escritos e saiba que o conhecimento é um processo, é uma construção, em que todos/as nós fazemos parte das diversas etapas de sua edificação. Participe desta aventura, venha pescar comigo nesse grande mar que é a vida, onde costuraremos histórias e reflexões acerca dos nossos sentimentos, pensamentos e das coisas da vida, as coisas do dia-a-dia que nos rodeiam.

Seguidores

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O cheiro da primavera

O tempo passou e ele nem percebera, nem fome sentia, já eram quase duas horas da tarde, aquele texto... Ah! aquele texto... Parecia mais um anúncio desesperado dizendo aos gritos: salvem-me! Naquele momento tudo em sua volta desaparecera, era apenas ele, o teclado e aquelas letras que aos poucos iam se organizando e formando aquelas palavras que juntas diziam aquilo que ele temia aceitar: “eu preciso de cuidado”.

Enquanto o seu texto revelava o que ele não queria saber, na faculdade ela pensava: “tenho só hoje, não vou consegui”, era o penúltimo dia para entregar o trabalho final da disciplina que ela menos gostava, era preciso correr contra o tempo. De um lado, o tempo dele parecia não correr, de outro, o dela corria na velocidade da luz. Ela aliviava-se, pois ainda teria a noite e ele desesperava-se, pois ainda teria mais uma noite.

Ele olhou em volta, a faxineira limpando o chão, seus movimentos eram tão atenciosos com cada sujeira que desarmonizava o brilho daquele piso, desejou então ser o chão, queria ter aquele tratamento de tão harmoniosa atenção e cuidado. Olhou no canto direito inferior da tela do computador e o relógio já marcava duas horas da tarde e ele ainda não tinha comido nada, era preciso comer alguma coisa. Na cantina da faculdade ela ria na companhia de seus colegas, serviu apenas verduras, disse que não podia engordar.

Ele olhou para o chefe e disse: vou comer, e foi. Procurou o restaurante mais lotado, ele queria ver gente, queria estar com gente. Não sentia fome, mas era necessário alimentar-se, nada lhe enchia os olhos nas bandejas. Uma pequena porção de arroz integral, um pouco de feijão por cima do arroz e um pedaço de frango fora a composição de seu prato. Algumas mesas vazias. Avistou o alvo, uma mesa com uma bela jovem almoçando sozinha, resolveu aproximar-se.

Com sua licença, posso assentar aqui? Fique a vontade, ela respondeu. Foram as únicas palavras. Antes tivesse escolhido uma mesa vazia, talvez o vazio fosse uma melhor companhia. Não, melhor assim, pelo menos podia contemplar em sua frente aquela silhueta angelical, por um instante sentiu-se fora de órbita. Com sua licença, ela disse, e aquela voz suave o vez voltar ao restaurante. Ela estava se despedindo, acabara de almoçar e ele não percebera. Toda, disse ele. E lá se foi, aquele anjo que por alguns instantes o levou até o céu.

Na faculdade um amigo oferecia carona para ela, muitas coisas a fazer e não podia perder tempo, aceitou. O amigo a levou até em casa, ele tentou beijá-la, mas ela não permitiu, tentou com mais firmeza e ela o empurrou. Saiu furiosa do carro. O que ele está pensando que eu sou? Uma vagabunda? Foda-se! Esse filho da puta, eu sabia que essa corona tinha outras intenções, bem feito, se fudeu. Assim, da próxima vez vai pensar antes de tentar alguma coisa.

Após sair do restaurante, ainda com aquela imagem angelical que fazia seu rosto ensaiar um sorriso, caminhou, caminhou sem destino. Olhou as lojas, as construções, os carros apressados, uma senhora atravessando a rua e ele ali, a observar todos os movimentos.

Estava na hora de voltar ao trabalho. Voltou para sua sala fria e nada aconchegante, tudo ali, naquele dia, se transformou num mausoléu depressivo. Queria sair daquele lugar o mais rápido possível, mas as horas não passavam. Tinha horário a cumprir, tinha que garantir o salário que possibilitava sua sub-vida. Voltou ao texto. Este sim o fazia viver. Mas, não durou muito tempo, logo concluiu o texto e ainda eram cinco horas da tarde. Os seus pensamentos noturnos voltaram a perturbar-lhe a mente. Lembrou de sua espera, não recebera a resposta que tanto ansiava. Olhou sua caixa de e-mail e, nenhuma resposta. O que fazer? Resolveu publicar em sua página virtual sua produção. Ainda faltava algum tempo até a hora de ir embora, então acessou o MSN, talvez encontrasse alguém que o ajudasse a se animar. Nenhuma resposta.

Enquanto ele esforçava-se para livrar-se daqueles pensamentos, ela debruçava-se sob aqueles textos de teorias complexas que de nada valem para a vida cotidiana, talvez, se ela passasse a noite acordada conseguisse terminar seu tão árduo trabalho.

Muitas janelas piscando, o que aconteceu? Todos querem falar comigo? Indagou-se. Quando abriu a primeira janela, entendeu, era o seu texto. Então sorriu. Pela primeira vez naquele dia ele sorriu. Talvez fosse a noite chegando com seus mistérios que encantam. Ou a primavera que se aproximava mais. Eram muitas janelas piscando em sua frente e, as perguntas eram diversas. Todos queriam entender o motivo daquele texto. Mas, nem ele mesmo sabia explicar. Seria mesmo fuga dos seus pensamentos insólitos? Ou seria uma necessidade gritando por sair do âmago de sua alma? Sua resposta era simples: "sentir vontade de escrever e saiu isso". Mas, acrescentando expressou: "é que já sinto o cheiro da primavera".

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...