O dia foi tão corrido que ele não percebera que agosto passou. Já estava na primeira madrugada de setembro. Relembrou o dia anterior, o último dia de agosto, cheio de coisas a fazer e as fez. Viveu todo aquele mês na espera daquele último dia de agosto que chegou e ele nem percebera que tinha passado, não viveu o mês inteiro como gostaria de viver, mas gostou do que viveu, sobretudo, aquele último dia de agosto.
A noite que antecedeu aquele dia, o último de agosto, já anunciava que o dia seguinte, a seu gosto ou a seu contra gosto, passou e restava apenas viver o seu último dia. E aquele fim de agosto teria um gosto diferente, um gosto especial.
Ainda restavam alguns ajustes a fazer antes que o galo anunciasse um novo dia. Sentado em frente ao seu computador, o jovem escritor, nada conseguia fazer, seus pensamentos estavam presos no dia que ainda estava por vir. Embriagago por seus pensamentos que o levavam para além dali, de seu quarto, tantas vezes frio com sua cama vazia, virou-se com um ar de satisfação e um suave sorriso, olhou para a sua cama que já não estava vazia como de costume e viu aquele corpo que cansado repousava ali e chamava por sua companhia.
O mar de palavras de seus mergulhos diários ganhava outros significados, com novas denotações e conotações, tão únicas que o seu maior esforço seria inútil para tentar verbalizar tudo o que aquele momento preenchia em seu interior. Um anjo resolveu lhe visitar e lembrar-lhe a beleza que há em ser divino na humanidade. O vazio que outrora tanto lhe incomodara já não tinha poder sobre ele. Sua divindade era o que mais humano possuía e foi preciso a presença daquele anjo para recorda-lhe do sentido da vida.
O eco do seu grito interior trouxe até ele aquela presença que o fazia sorrir. Deixou seus ajustes de lado. Nada mais importava. Somente a contemplação de sua amada que se encontrava ao alcance de seus abraços, beijos e carinhos, merecia sua atenção. E, ao ouvido daquele ser angelical que repousava em sua cama, sussurrou: impossível não te amar, és tão radiante que o arco-íris nasce em ti e por isso tua presença colore o mundo.
Sem a ansiedade da espera pela chegada do último dia de agosto, deitou-se, abraçou sua amada e continuou suas juras de amor e adormeceu sentindo a brisa que invadia seu quarto e fazia aquela junção de corpos ganhar mais sentido. Foi assim, que aquele mês de agosto e, sobretudo, seu último dia, não ficou ao gosto do jovem escritor, mas ficou a gosto do amor, que sempre foi sua maior reverência, a causa de seus escritos e seus melhores refluxos mentais.
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